Baixe o material de estudo
A marcenaria rangia no fundo do quintal enquanto Kleiton Ferreira, menino do interior alagoano, contava em silêncio as lascas que voavam do serrote do pai. Cresceu achando que inteligência era privilégio, um dom reservado aos colegas mais aplicados. Ele, por sua vez, passava raspando nas provas e carregava o estigma de quem ocupa as últimas carteiras da sala de aula – além do peso da sentença de um professor cruel: “só escreverá bem se trocar de cabeça”.
A reprovação no vestibular para Medicina selou a frustração coletiva da família. Tentou cursar Biologia, largou. Trocou as aulas pelo fliperama e quase acreditou que era mesmo um “caso perdido”.
A vida, porém, não permite inércia quando há filhos a caminho.
Aos vinte anos, com a namorada grávida e sem diploma, passou a levar mais a sério o trabalho. Começou carregando armários e varrendo pó de serra no pequeno negócio do pai. Depois, tornou-se carteiro. Logo descobriu que salário nenhum compra fralda quando a dignidade está penhorada. Mesmo assim, tomou uma decisão que os vizinhos chamaram de loucura: largou o cargo nos Correios para disputar um estágio na Justiça Federal, que pagava menos, mas comprava o que ele mais precisava: tempo. E tempo, para quem precisa estudar, é tudo.
Sem carro nem rede de apoio, virava as noites com um pé no carrinho do filho e o outro nos resumos banhados de suor. Passou na última vaga das dez disponíveis. Chegou ao fórum devendo favores aos assessores que corrigiam suas minutas anêmicas de gramática. Quase dispensado, implorou por mais seis meses e agarrou cada sentença como quem se agarra a uma tábua em meio ao naufrágio. De tanta insistência, transformou em ofício o que antes era vergonha.
Quando a carteira da OAB chegou, junto às primeiras causas que lhe confiaram, parecia que, enfim, vencera o deserto inóspito. Mas veio 2014 e, com ele, a crise. Os honorários minguaram e a geladeira voltou a fazer eco. Foi então que o filho do marceneiro compreendeu: a tranquilidade não está em ter contracheque, mas em ser estável no serviço público. Decidiu que preferia sangrar por anos nos concursos a morrer em prestações na incerteza.
Seguiram-se as provas: Procuradorias, Ministérios Públicos, TRFs. Parcelou passagens, dormiu em pensões baratas, rasgou gabaritos na volta para diminuir o peso da mochila. Cada derrota soldava um elo na corrente da resistência.
No TRF-2, de sete mil candidatos, sobraram catorze para a prova oral. Entre eles, Kleiton, que entrou na sala quase sem dormir, o coração retumbando diante dos cinco desembargadores de expressão fechada que o separavam da grande guinada. Saiu dali certo de que tinha falhado. Quando o presidente do tribunal leu: “nota final: seis” – o mínimo para a aprovação –, o plenário ouviu um soluço. Era o dele. O filho do marceneiro tornava-se juiz federal no exato limite entre o sim e o não. Ligou para a mãe. Do outro lado da linha, aquela que um dia fizera a feira para o filho e a família chorou, mas agora de alívio.
A comemoração durou pouco. Mal Kleiton vendeu o carro, cancelou a OAB e alugou um apartamento no Rio para o curso de formação, veio o balde de água fria: posse suspensa por “restrições orçamentárias”. Em seguida, pandemia. Com dois filhos para sustentar, renda zero e malas vazias, voltou ao quarto de infância. A mesa da mãe mais uma vez virou despensa de emergência. Foram meses de limbo até que uma decisão do Conselho da Justiça Federal devolveu a convocação e, com ela, a esperança.
Em 5 de novembro de 2020, por videoconferência, o novo magistrado ergueu a mão direita e jurou cumprir a Constituição. Estava sozinho diante da tela, mas com a biografia inteira convulsionando dentro do peito. Na toga, a herança de cada madrugada insalubre, cada ki-suco preparado com água fervida – água mineral com que dinheiro? –, cada “quase” engolido na jornada.
A notoriedade veio dois anos mais tarde, fruto de um vídeo que viralizou nas redes sociais. Nele, o juiz que presidia uma audiência online explicava com paciência o conceito de trabalho rural descontínuo a um agricultor humilde chamado Gabriel. As imagens percorreram o Brasil e ganharam a simpatia de todos por destoarem das cenas de empáfia comuns nas audiências judiciais. Aquilo era respeito em estado bruto.
Mas o fenômeno digital é só a ponta do iceberg. Abaixo, a história é bem mais rica, feita de avanços, recuos e recomeços. O homem que fracassou em Medicina, largou Biologia e tropeçou no Direito é o mesmo que insistiu depois de cada obstáculo. A cronologia da derrota virou mapa da escalada.
A você, concurseiro que lê estas linhas com o aluguel atrasado e a geladeira vazia, Kleiton propõe um roteiro sem verniz: corte as distrações, estude até o silêncio se tornar confortável, aceite que as coisas piorem antes de melhorar. Lembre-se: a nota 6,0 dele lhe garantiu o mesmo contracheque de quem recebeu a pontuação máxima.
Se sua voz interna sussurrar que você é “ruim em tudo”, responda com a obstinação de quem empurrou bicicleta na chuva para entregar móveis e depois empurrou a si mesmo para longe da autopiedade. A diferença entre o “quase” e o “certo” cabe num décimo de ponto – ou uma noite a mais de estudo quando os outros já se renderam ao cansaço.
Kleiton Ferreira não é exceção à regra; é a prova de que as estatísticas se dobram diante de quem ousa transformar dificuldades em combustível. Ele atravessou o campo minado dos concursos tropeçando, sim, mas com a coragem de continuar.
Coragem agora devolvida, em forma de crônica, a quem vier atrás.
Quer mergulhar nos bastidores dessa travessia, ver cada riso nervoso e ouvir detalhes de cada virada que não couberam nestas linhas? Então aperte o play na entrevista completa com o juiz e professor do Gran Kleiton Ferreira, já disponível no Canal Imparável, que acaba de celebrar o primeiro ano de vida. Lá, você confere o relato sem cortes, sente o peso das pausas e sai com munição de sobra para enfrentar o próximo edital.
Nos vemos lá:
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
Participe do meu Canal no Whatsapp e do Canal do Imparável no Telegram e tenha acesso em primeira mão ao artigo da semana e ao áudio do artigo com a voz do autor, além de muitos outros conteúdos para inspirar você, mesmo em dias difíceis!
P.S.: Siga-me (moderadamente, é claro) em meu perfil no Instagram . Lá, postarei pequenos textos de conteúdo motivacional. Serão dicas bem objetivas, mas, ainda assim, capazes de ajudá-lo em sua jornada rumo ao serviço público.
Mais artigos para ajudar em sua preparação:
- A história da minha mãe imparável, nomeada aos 60 anos
- Vulnerabilidade é força
- Hora certa
- Escadas invisíveis
- Estabilidade em um mundo instável.
- Torne-se um testemunho
- Sucessão
- Mensagem para o dia da sua posse
- Tente. Tente de novo. Tente mais uma vez.
- Viva o que eles sonham
- Menos é mais: a Navalha de Ockham
- O tempo jamais será o bastante
- Aguente firme!
- Disciplina é liberdade
- Os passos passam, as pegadas ficam
- E se eu conseguir?
- Carta ao Gabriel de 18 anos
- Aumente o sacrifício ou diminua o desejo
- A Semente que Sobreviveu ao Frio
- Depois das Cinzas
Quer ficar por dentro dos concursos públicos abertos e previstos pelo Brasil? Clique nos links abaixo:
CONCURSOS 2025
CONCURSOS ABERTOS
QUESTÕES DE CONCURSOS
Receba gratuitamente no seu celular as principais notícias do mundo dos concursos. Clique no link abaixo e inscreva-se:
TELEGRAM
Fonte: Gran Cursos Online