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Este é meu 500º artigo publicado aqui. Para marcar esse número simbólico, preparei um relato especial, não para enaltecer minha trajetória, apenas para que você me conheça melhor. Afinal, embora muitos me acompanhem há quase dez anos nesta coluna semanal, poucos sabem dos perrengues vividos por trás das câmeras e das redes sociais. Então, apesar de não gostar muito de escrever sobre mim, hoje abro exceção com um propósito claro: mostrar como a minha jornada — e a do Gran — pode inspirar você a continuar firme nos seus projetos. Especialmente quando a disciplina parecer um fardo.
O começo de tudo
Nasci em Brasília, em maio de 1992, mas a minha história — e, de certo modo, a do Gran — começa bem antes, entre casas de taipa no sertão potiguar.
Aos sete anos, meu pai, Wilson, viu a mercearia da família sucumbir à seca em Encanto/RN. Migrou com a mãe para uma Brasília recém-inaugurada, onde viveu em favela e morou num trailer cedido pelo governo. Às vezes, a “casa” era rebocada à noite, e ele dormia em uma borracharia. Vendeu picolé, assentou tijolos, mas jamais abandonou os livros. Aprovado em oito concursos públicos, incluindo um primeiro lugar, tornou-se professor de curso preparatório e instrutor em escolas de governo.
Minha mãe, Ivonete, filha de um agente penitenciário mal remunerado, foi a primeira da família a conquistar um diploma. Com meu pai, comprou um pequeno apartamento de 56 m² em Taguatinga, em parcelas a perder de vista.
Aquele foi meu ponto de partida físico e também a primeira prova de que o estudo não é castigo, mas degrau.
Sempre fui bom aluno. Na escola (bilíngue), minha regra era a nota máxima. Isso não me impediu, porém, de, aos 14 anos, começar a ajudar meu pai na empresa da família. Ia lá todos os dias depois das aulas. Passei por todos os setores: portaria, xerox, recepção, almoxarifado, pedagógico, financeiro… Só não limpei o banheiro porque não pediram. Teria feito com orgulho. Ali aprendi algo que nunca esqueci: a educação muda o CEP.
O “não” que abriu portas
No fim do ensino médio, fiz o SAT (vestibular americano), obtive a maior nota da turma e garanti minha vaga na Stern School of Business (NYU), em Nova York. De repente me vi cercado de colegas que sonhavam com Wall Street e salários milionários.
Quase segui o mesmo caminho. Contudo, nas férias de 2012 voltei ao Brasil e tentei um estágio não remunerado no Banco Central, no intuito de ganhar experiência no mercado financeiro e ficar perto da família. A resposta foi “não”. Aparentemente, minha faculdade estrangeira não se encaixava no programa. Saí frustrado, mas foi isso que me fez reencontrar meu mundo desde menino: a educação.
As salas vazias do antigo curso do meu pai acenderam um sinal. A internet, que já havia transformado a música, os filmes e os táxis, também mudaria o ensino.
Liguei para Rodrigo Calado — um gênio da tecnologia, calado só no nome — e propus criarmos um curso 100% online, mesmo antes de se ouvir falar em “edtech” no Brasil. Começamos juntos esse projeto, e faço questão de reconhecê-lo como corresponsável por tudo que conquistamos.
Nosso início foi modesto. Com menos de R$ 100 mil, câmeras antigas, cartolinas improvisadas para rebater a luz e uma sala emprestada como estúdio, demos início ao que viria a ser o Gran. No dia 6 de dezembro de 2012, colocamos no ar nosso primeiro site, com apenas três cursos.
O fundo do poço e a virada
Voltei aos Estados Unidos para concluir meu bacharelado, e seguíamos, Rodrigo e eu, administrando tudo a distância. Eu estudava até às 23 horas, virava noites respondendo e-mails e vibrava a cada nova matrícula. Formei-me com honras e entre os melhores da turma. Recusei os bancos de investimento e retornei ao Brasil.
Mas 2014 chegou e se revelou o pior ano da minha vida. O curso presencial dos meus pais fechou, os editais rarearam no DF — nossa principal praça —, e o on-line consumia mais do que arrecadava. O saldo no banco mergulhava no cheque especial… Lembro de estacionar o carro certa noite e chorar pensando em como honrar a folha de pagamento. Agarrei-me ao discurso de Theodore Roosevelt: “O crédito pertence ao homem que está de fato na arena, cuja face está manchada de poeira, suor e sangue…”
Não desistimos. Em setembro de 2015, lançamos a assinatura ilimitada, a “Netflix do concurseiro”. Disseram que era loucura, que isso quebraria o negócio. Professores hesitaram, achando que perderiam dinheiro, mas Rodrigo e eu acreditamos. E funcionou: a receita se estabilizou, montamos novos estúdios e formamos um time de professores de todo o Brasil.
Disciplina: o que sustenta o sonho
Sempre fui disciplinado. Por anos, estudei ou trabalhei dezesseis horas por dia, inclusive nos fins de semana. Planejo minha semana aos domingos e sigo horários rigorosos. Compromissos às 14h25, por exemplo, não são raros em minha agenda, e jamais deixo de acordar cedo para nadar ou fazer musculação, buscar o Samuel na escola e brincar com o Daniel antes de dormir.
Nunca foi fácil conciliar tantos afazeres. Perdi amigos e chorei de exaustão algumas vezes, mas, entre renúncias e aprendizados, firmei uma convicção: disciplina não é prisão; é liberdade. Graças a ela, hoje faço o que amo, estou presente para minha família e posso oferecer o melhor aos que amo. Esse era o meu sonho, e fui atrás dele com tudo que eu tinha.
O método testado em casa
Em 2019, criei o canal Imparável. Ali, toda quinta-feira — sem falhar nem no Natal, nem doente ou passando mal — compartilho histórias reais de superação, que somam mais de trezentas conversas e milhões de visualizações. Desde 2016, também publico esta coluna semanal. São quase dez anos ininterruptos de artigos inéditos às segundas-feiras. Escrevo para os alunos, mas também para mim, para lembrar que sou imparável mesmo quando o cansaço bate.
Na pandemia, migramos 70% da operação para home office em apenas três dias. Certos de que talento não tem CEP, passamos a contratar em todo o país. Em 2022, demos um novo passo: adquirimos um centro universitário nota máxima no MEC em Curitiba e fundamos a Gran Faculdade. Lá, oferecemos quase quarenta graduações e cem pós-graduações. Hoje, contamos mais de 100 mil matrículas no modelo EAD, o mesmo DNA que nos tornou referência nos concursos públicos.
Não faz muito tempo, colocamos à prova nosso método, e dentro de casa. Minha mãe, que interrompera os estudos na juventude para criar a mim e ao meu irmão, voltou a eles depois dos 55. No Gran, resolveu 35 mil questões, o suficiente para, aos 60, tomar posse como consultora da Câmara Legislativa do Distrito Federal, na área que sempre amou: Direitos Humanos.
Para minha alegria, meu pai viu o ciclo se fechar, com o menino criado para ter oportunidades hoje as criando para milhares de outras pessoas.
O preço da persistência
Nada disso veio de graça. Já dormi no sofá, exausto, ao chegar em casa depois da meia-noite. Ouvi dezenas de nãos antes do primeiro sim. Fui rejeitado por bancos por ser “novo demais”. Aprendi que, se pessimismo é ruim, ingenuidade também não ajuda em nada. O que funciona, mesmo, é o otimismo de quem age, erra, recomeça e insiste.
Ironicamente, minha atual sala na sede do Gran tem vista para o Banco Central. Às vezes me pego olhando para lá e lembrando que aquele não de 2012 foi o empurrão que eu precisava. A negativa que mudou tudo.
Hoje o Gran alcança 4.951 municípios, emprega mais de 2 mil pessoas e tem mais de 800 mil alunos ativos. Somos nada mais nada menos que a maior edtech pura da América Latina.
A herança que quero deixar
Apesar de ter muito orgulho desses números, não são eles que me movem, mas as histórias por trás deles. Vejo cada aprovação como um trailer-casa que virou trampolim. Daqui a vinte anos, quando meus filhos — Samuel, Daniel e Joel, ainda no “forninho” — lerem este relato, espero que compreendam duas verdades:
- Nada supera o trabalho construído com ética e disciplina;
- Toda conquista começa com a coragem de entrar na arena mesmo com o rosto coberto de poeira.
Espero, ainda, ter deixado claro que o pai deles não é apenas o CEO do Gran. É também o garoto que chorou dentro de um carro em 2014, mas escolheu continuar. E que descobriu, na prática, que o mundo costuma abrir portas para quem segue lutando, ainda que sob a luz débil de um estúdio improvisado.
Gabriel Granjeiro
Pai do Samuel, Daniel e Joel
Esposo da Vivi
CEO e cofundador do Gran
Reitor da Gran Faculdade
Professor de Liderança e Cultura Organizacional
Forbes Under 30
MIT Latam Under 35
Empreendedor do Ano Ernst & Young
Autor de 4 livros best-sellers na Amazon Kindle
Apaixonado por mudar vidas.
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Fonte: Gran Cursos Online