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Na foto da posse, o terno parece novo, mas a história por trás dele é antiga. Começa em Aracaju, com uma mãe que trabalhava de madrugada como faxineira, passava o dia no curso técnico de enfermagem e ainda achava tempo – e disposição – para atender ligações das colegas pedindo dicas. Começa também com um pai vendedor ambulante que descobriu o Parkinson quando o filho tinha 12 anos. “Um dia seu pai vai precisar de você”, diziam. E esse dia, de fato, chegou.
Jonathas cresceu entre sacolas de frutas na banquinha do pai e cadernos com erros de ortografia. Aluno mediano, foi capaz de aos 9 anos tirar 9,5 numa redação sobre violência no trânsito – tema livre escolhido por alguém que acordava cedo para ver jornal e o programa Pequenas Empresas & Grandes Negócios –, mas oscilava nas outras matérias. O que não oscilava era a lição da mãe: estudo muda destino.
A faculdade parecia distante até que, aos 15, a igreja abriu uma janela. Lá, Jonathas conheceu gente cursando universidade e sonhou alto. Viu-se de terno e gravata, o curso de Direito como objetivo. Faltando meses para o vestibular, montou o primeiro plano de estudos da sua vida. Funcionou.
Na sala de aula, o coração ardia, mas, nos corredores, a realidade o alcançou: tímido, ele não se imaginava advogando. O raciocínio foi direto: em concurso público, não se avalia aparência ou simpatia, e sim o resultado. Cogitou o Ministério Público, mas no estágio percebeu que esse não era seu caminho. Sem rumo, listou possíveis cargos. Os critérios eram quatro: uma carreira que permitisse tempo para se dedicar a outras paixões (história, teologia, filosofia…), um salário que dispensasse bicos, vaga em Sergipe e, se possível, um ofício pouco conhecido, pois ele queria ser lembrado pelo nome, não pelo cargo. O alvo financeiro era modesto: R$ 2.500 por mês. A carreira de auditor fiscal nem sequer lhe passava pela cabeça.
Até ele conhecer a família – e a mãe – de um colega da faculdade. O que o impressionou não foi o aeroporto, tampouco a tevê da casa, mas tudo que aquela mulher pudera fazer graças ao bom salário de auditora: ajudar a família, comprar a casa da mãe, garantir os estudos dos filhos. “É por aí…”, pensou. Jogou no Google: “auditor fiscal Sergipe”. O resultado foi que o último concurso havia sido trinta anos antes – e justamente naquele dia um novo estava autorizado. Um sinal é um sinal.
Começou a estudar. Sem o método ideal, reconhece, mas começou. Contudo, a vida se complicou entre rotina pesada, pressão por resultados, conflitos dentro de casa e dinheiro curto. O emocional cedeu, e Jonathas largou o estágio. Passou a ir a pé para a faculdade, e às vezes nem ia. Os estudos simplesmente deixaram de ser prioridade. Depois veio a pandemia e, com ela, a escassez de emprego. Distribuiu o currículo para 80 postos, de serviços gerais a estoquista de mercadinho, e nada. Seguiu com o que estava disponível: as aulas gratuitas no YouTube pela tela do celular ou do notebook emprestado.
Certa noite, a casa deixou de caber nele – ou talvez ele já não coubesse nela. Saiu com a roupa do corpo e andou até cansar os pés e a alma. Sem teto, dormiu na rua mesmo. Naquela noite, entendeu que o concurso público, para ele, não era mera escolha profissional, era questão de sobrevivência. Pediu trabalho ao único que não lhe negaria um, o pai. O emprego na pequena frutaria, no entanto, não durou muito. Demitido pelo irmão, que preferia um ajudante “mais ágil”, voltou para a casa da mãe. E para os estudos.
Àquela altura, as reprovações já somavam três. A mais dolorida delas foi para a Secretaria de Fazenda de Sergipe. Poucos meses antes da prova, a mãe daquele amigo – a quem ele carinhosamente se refere como “mãe café com leite” – lhe fez um convite que valia por uma estante de livros inteira: casa e silêncio para ele conseguir estudar. Ele não perdeu a oportunidade e se dedicou como nunca. Ainda assim, reprovou.

Jonathas na pequena frutaria de seu pai, de onde acabou demitido.
Durante um almoço, enquanto era consolado pela família do amigo, alguém lhe apontou a trilha: “Parabéns. Com a estrutura que você tinha, chegar até aqui é coisa de poucos. Dizem que em seis meses vem Receita Federal.” Às vezes, a diferença entre cair e levantar é uma frase. Jonathas analisou as disciplinas da Receita e montou um plano cirúrgico de seis meses. Ajustou a bússola: se não fosse em Sergipe, paciência.
Morando num assentamento de lona, ganhava R$ 20 a R$ 40 por dia. Com esse valor, pagava transporte, comida e a assinatura de estudo. Sem dinheiro para a inscrição, mais uma vez contou com o socorro do amigo, que se ofereceu para ajudar sob uma condição: “Pago se você prestar para Auditor.” Jonathas cancelou Analista, respirou fundo e subiu o sarrafo.

O assentamento onde Jonathas morou na fase mais difícil. Sua casa ficava ao fundo e era bem mais simples que a da imagem.
Faltavam-lhe ferramentas. O notebook emprestado foi pedido de volta. A namorada – hoje esposa – fez o TCC no celular para ceder, às escondidas, o único computador da casa. O cartão dela tinha R$ 100 de limite, e a assinatura social do Gran coube no estreito orçamento. Pronto! Com o plano no papel, material de estudo em mãos, fé e um tanto de teimosia, lá foi ele para mais um desafio.
Veio a prova. Veio a aprovação. Veio a posse, apenas poucos dias atrás. E foi na posse que tudo se encaixou: quando lhe explicaram suas funções, ele finalmente compreendeu. “Tudo que estudei vai ser usado. Tudo que vivi me ajudará a entender o peso de cada decisão.” O terno não era só roupa; era símbolo. O contracheque de mais de R$ 20 mil ainda assusta, mas o propósito segue firme: retribuir o que recebeu, honrar quem o incentivou, cuidar dos seus.
Peça a Jonathas um conselho técnico, e ele falará em plano de seis meses, em necessidade de sanar deficiências e na importância de priorizar o que mais cai na prova. Mas se a pergunta vier de quem está quase desistindo, a resposta virá de quem já dormiu na rua: cerque-se de gente verdadeira. De uma “mãe café com leite”, de um amigo que banque sua inscrição, de uma parceira que lhe empreste o notebook e lhe ceda o limite do cartão. De gente que aposte em você mesmo quando tudo que você tem a oferecer em troca é determinação. Se lhe faltar fé, aceite a dos outros emprestada.
Certas histórias se perdem num enredo duvidoso, outras não. Esta começou com uma mãe estudando enquanto o mundo dormia, um menino vendendo frutas ao lado do pai, uma listagem de cargos e uma pesquisa no Google. Quase se encerrou antes da hora, diante de três reprovações. Teve o céu como teto, lona como casa e um “parabéns” que virou mapa da mina. Hoje tem crachá de Auditor-Fiscal e uma ideia simples: disciplina e convicção fazem atravessar qualquer deserto quando não se caminha sozinho.

Jonathas na sua posse como Auditor da Receita Federal ao lado da “mãe de Brasília”, a Sra. Ana Tereza, que o acolheu na cidade até ele encontrar um local para ficar.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
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Fonte: Gran Cursos Online