Baixe o material de estudo
O menino que acordava às quatro e meia para ir com os pais à roça, voltava correndo para engolir o almoço e, sem tempo para cochilo, atravessava o terreiro até a sala simples de paredes claras. Vila São José — que todo mundo chama de Manuéis — é um povoado com menos de novecentos habitantes no mapa de Traipu, sertão de Alagoas, encostado no São Francisco. Ali, onde cada rosto tem nome e cada nome tem história, nasceu e cresceu Gilson dos Santos Leite, filho de agricultores que, analfabetos, aprenderam cedo a linguagem dos ventos e das secas.

Gilson na casa dos pais, no povoado de Manuéis.
Em 2004, o filho mais velho da família entrou no 1º ano. Gilson, um ano mais novo, ainda não tinha idade para ser matriculado, mas, como não havia com quem deixá-lo, os pais o levaram junto. Ficou na mesma sala que o irmão e fez as mesmas atividades que ele, como se estivesse regularmente inscrito na turma. Começou os estudos assim, informalmente.
A ânsia por conhecimento surgiu, mas as coisas caminhavam no ritmo que dava. No povoado, as lâmpadas incandescentes mal venciam a escuridão, e, depois de um dia pesado na roça, o corpo cobrava sono em plena sala de aula. Apesar disso, o menino teimava em aprender e organizava o mundo copiando dados de enciclopédias no fim dos dicionários, fazendo rankings das maiores cidades. No ensino médio, já em Girau do Ponciano, irritava-se com o ritmo lento de algumas aulas — como assim uma única matéria repetida por quatro aulas?
Aos 16 concluiu a escola e engatou a faculdade de Engenharia Civil. Para quem estudara à meia-luz, encontrar laboratórios bem equipados, biblioteca e pista de corrida à disposição foi como abrir as janelas depois de anos em um cômodo fechado — um clarão que, de tão intenso, quase cegava antes de revelar o mundo inteiro lá fora.
Mas foi nos estágios que a ideia de futuro mudou de vez. O engenheiro-chefe ganhava bem, mas vivia correndo, sem tempo de ver a filha senão no intervalo do almoço. Os colegas formados trabalhavam como auxiliares e reclamavam do salário baixo. A frustração era palpável.
Àquela altura, Gilson repetia que jamais faria concurso público. “Se um dia eu fizer, é porque tudo deu errado”, dizia, reproduzindo um preconceito antigo, herança de experiências ruins como usuário do serviço. Foi a namorada — hoje esposa — quem virou a chave, enchendo o celular dele de vídeos sobre PF e PRF e links do Gran. “Só tenta”, dizia. Em maio de 2020, início da pandemia, ele cedeu. Decidido a estudar em tempo integral, deixou os estágios. Faltava, porém, o de sempre: dinheiro. A família tinha histórico no Bolsa Família, e foi assim que ele descobriu a Assinatura Social do Gran, que “permite concorrer de igual para igual”. Matriculou-se.
Dali em diante, o estudo virou ofício. PDFs sublinhados, videoaulas aceleradas — quando a internet permitia —, Gran Questões durante o almoço na obra temporária que arrumou em novembro… Sem Wi-Fi bom, baixava as aulas de madrugada para assistir off-line.

Gilson estudava em uma cadeira desconfortável e em uma mesa de plástico improvisada.
Durante a semana morava com a avó em Arapiraca e aos sábados retornava para a casa dos pais, onde, depois de ajudar o irmão na ordenha das vacas, começava o dia resolvendo 40 questões de português. Quando a Polícia Federal enfim virou foco, ele já tinha um esquema todo montado, entre ciclos de estudo organizados em planilhas, ritmo administrado pela técnica pomodoro, disciplinas separadas por peso, além de revisões programadas e cumpridas com rigor. Simulado após simulado, foi da casa dos 40 pontos para perto dos 80. Analisando as notas de corte de concursos anteriores, pela primeira vez acreditou: “Dá”.
Preocupado com o TAF, fez o que precisava ser feito. Não sabia nadar, então começou do zero, uma braçada de cada vez. Na barra fixa, treinou como deu, no improviso que a pandemia permitia. A fome de acerto dividia espaço com a falta de recursos: “Tive dificuldade até para pagar academia. Alimentação, tudo era contado. Se não fosse a Assinatura Social, eu não teria conseguido.”
No dia da prova, saiu com a cabeça cheia de fantasmas. “Deu ruim”, pensou. Em casa, conferiu suas respostas com o gabarito preliminar do Gran: 82 pontos. O número indicava que o impossível tinha se tornado provável. No dia 11 de julho, às cinco e pouco da manhã, pegou o celular e viu o nome no Diário Oficial. Primeiro se sentou; depois se deitou. Ficou ali, mirando o teto, até esquecer a hora. Finalmente se levantou e foi correr, como quem agradece com o corpo. Na volta, o telefone explodia. Agradeceu aos professores. Citou, entre outros, Geilza, Aragonê, Gustavo Scatolino, Érico Palazzo e até este escritor, que talvez o tenha ajudado com algumas mensagens de motivação…
Contou aos pais apenas depois de aprovado no TAF. A mãe, hipertensa, viu a pressão subir com a notícia da mudança para Brasília. O pai quis saber o salário, decorou o número, e, no mesmo dia, metade da família já repetia, vaidosa, a novidade “do menino de Manuéis” que ia ser policial federal e ganhar bem. Quando o filho voltou, ouviu o que mais doeu e mais curou: o sertanejo duro a quem chamava de pai pediu um abraço, chorou, falou que estava orgulhoso e que, acontecesse o que acontecesse, aquele pedaço de chão continuaria sendo casa. Foi a primeira vez que Gilson viu aquele homem de poucas palavras dizer tanto com tão pouco.
Católico à moda do sertão, o recém-aprovado já tinha feito promessas: mandaria o primeiro salário inteiro aos pais e com o segundo começaria a reforma da casa — “não é lugar para dois idosos viverem do jeito que está” — e contrataria um plano de saúde para eles — houve dias em que o pai ficara sem remédio por falta na farmácia, e o filho não queria que isso se repetisse.
Hoje, aos 25, Gilson é policial federal em Corumbá/MS, cursa Direito na UFMS e pensa em ser delegado, talvez professor… Mas sem pressa. O que existe, firme, é a recusa em parar. Quando a própria história parece dizer que agora dá para descansar, ele se lembra do menino que copiava trechos de enciclopédias na penumbra e do jovem que resolvia questões de português antes mesmo do café da manhã. Seu caminho nunca fora o do descanso, mas o do passo seguinte.
Se alguém lhe pergunta o que o moveu até aqui, a resposta vem sem fórmula complicada: ele acreditou e, acreditando, trabalhou no escuro até conseguir acender a própria luz. Do povoado de menos de mil almas saiu um aprovado em um dos concursos mais disputados do país. não porque um milagre caiu do céu, mas porque, quando a oportunidade chegou, ele estava de pé para agarrá-la.
Gilson já voltou a Manuéis como policial. Atravessou os mesmos cinquenta passos até a escola onde tudo começou, abraçou o pai que nunca foi de abraços, levou a mãe para medir a pressão no posto e segue ajudando a clarear os cantos que um dia foram escuros. No olhar dos vizinhos e nas conversas que se espalham pelas ruas simples, ele vê o reflexo de quem foi — e a prova viva de que, com fé, disciplina e dedicação, até o sertão mais distante pode ser ponto de partida para chegar a qualquer lugar.

Hoje, Gilson serve o país e recebe mais de R$ 14 mil por mês como policial federal.
Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
Participe do meu Canal no Whatsapp e do Canal do Imparável no Telegram e tenha acesso em primeira mão ao artigo da semana e ao áudio do artigo com a voz do autor, além de muitos outros conteúdos para inspirar você, mesmo em dias difíceis!
P.S.: Siga-me (moderadamente, é claro) em meu perfil no Instagram . Lá, postarei pequenos textos de conteúdo motivacional. Serão dicas bem objetivas, mas, ainda assim, capazes de ajudá-lo em sua jornada rumo ao serviço público.
Mais artigos para ajudar em sua preparação:
- Lesão Cerebral, Divórcio, Demissão e 21 Aprovações aos 51 anos
- Conselhos sábios de Dona Maria
- Última vaga, primeira virada: a odisseia de Kleiton Ferreira
- A história da minha mãe imparável, nomeada aos 60 anos
- Vulnerabilidade é força
- Hora certa
- Escadas invisíveis
- Estabilidade em um mundo instável.
- Torne-se um testemunho
- Sucessão
- Mensagem para o dia da sua posse
- Tente. Tente de novo. Tente mais uma vez.
- Viva o que eles sonham
- Menos é mais: a Navalha de Ockham
- O tempo jamais será o bastante
- Aguente firme!
- Disciplina é liberdade
- Os passos passam, as pegadas ficam
- E se eu conseguir?
- Carta ao Gabriel de 18 anos
Fonte: Gran Cursos Online