Apostilas em PDF – Do fogo ao TRE-PA

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A primeira lembrança que o mundo deixou em Lucas foi de chamas, fogo e destruição. Na zona rural da Bahia, onde ele nasceu e cresceu, não havia energia elétrica, e o jeito era iluminar tudo com lampião. Certa noite, acabou o gás da cozinha e, numa simples troca do botijão, a casa de taipa com telhado de palha onde a família vivia desmoronou. Foi tudo muito rápido: o gás do botijão escapou e, num segundo, a chama do lampião engoliu tudo. Aos três anos de idade, Lucas agora só tinha a roupa do corpo. 

Lucas trabalhando na roça.

Depois vieram a roça, a enxada, os pés no barro. Trabalho nunca faltou; quase todo o resto, sim. A mãe, porém, insistia que estudar era o único atalho, o equivalente a caminhar quilômetros até o ponto em que talvez passasse um carro. Foi dando crédito a ela que Lucas, antes mesmo de pensar em método, descobriu a força da vontade. 

Em 2010, ele decidiu tentar o concurso temporário do Censo do IBGE. Sem internet em casa, recorria à lan house, salvava páginas em JPEG, gravava em CD e assistia pela tevê de tubo, transcrevendo todo o conteúdo à mão para os cadernos. Um curso inteiro feito à base do improviso, e o resultado? Primeiro lugar no município. Tentou mais uma vez, agora para agente comunitário de saúde e, de novo, foi bem. Por critério de desempate, a vaga foi para a irmã. Sinal de que dava certo.

Vieram a cidade e o emprego no posto de gasolina… De 2011 a 2020, levou vida de frentista, passando 12 horas em pé por 36 de descanso. Tentou faculdade no IFBA, mas a conta não fechava, entre ônibus às 17 horas para assistir às aulas a 120 km de casa, volta à 1 da manhã e entrada no trabalho dali a apenas 5 horas. Não houve saída senão trancar o curso; na boca, o gosto azedo de promessa adiada.

Concurso público, então, virou plano central, e em 2017 os tribunais entraram no horizonte. O TRT-BA parecia possível, ao menos até Lucas se esquecer de copiar a frase obrigatória da capa da prova… Apesar de ter ido bem, a nota não foi computada. Ali ele aprendeu duas lições: primeiro, instrução é disciplina; segundo, erro não muda o objetivo, apenas o caminho.

Refez o seu. Adquiriu material do Gran, organizou-se e montou uma boa rotina. Nos dias úteis, chegava do trabalho, tomava um banho e jantava rapidamente antes de começar a estudar, religiosamente, às 21 horas. Ia até a meia-noite. Nos dias de folga, o estudo começava às 8 e só era interrompido de madrugada. Lucas aproveitava até o horário de almoço: comia rápido para assistir às videoaulas – em velocidade acelerada –, de fone de ouvido e caneta em punho. 

Em 2018, os sucessivos editais animaram, mas Lucas não tinha dinheiro para viajar até os locais de prova. Chegou a se inscrever em TRTs e a estudar firme até o último minuto. No dia da prova, porém, não ia… Só continuou estudando porque sabia que estudo é patrimônio que não se perde.

No dia 14 de novembro de 2019, analisando o edital do TRE-PA, percebeu que já dominava 80% do conteúdo. Faltava apenas resolver o óbvio: como chegar a Belém. Quinze dias antes da prova, o bolso continuava vazio. Mas eis que Miquéas, colega de estudos, ouviu o “não vai dar” e respondeu com ação: arrumou um cartão e parcelou a passagem e a hospedagem do amigo. Não foi favor, foi aposta.

Lucas trabalhando no posto de gasolina e com o amigo Miquéas.

Na capital paraense, a prova foi difícil. A cabeça fervia e Lucas foi tomado daquela sensação de que o concorrente ao lado estava acertando tudo que ele errava. Saiu convicto de que tinha dado errado. Ligou para Miquéas e anunciou: “Seguimos estudando”. Depois, ao corrigir o gabarito, vislumbrou uma mudança de cenário. A pandemia, no entanto, chegou e parou o mundo, alongando a espera. Quando o resultado finalmente saiu, lá estava seu nome, no 34º lugar da ampla concorrência e 2º das cotas raciais. O posto de gasolina ficou para trás; a posse, adiante.

No ato, não houve discurso. Houve caneta, documento, foto e um silêncio raro – o silêncio do dever cumprido. 

Hoje Lucas é técnico do Tribunal Regional Eleitoral, lotado no interior do Pará. Aprende o ofício com diligência e respeito, como quem entra numa casa nova e primeiro observa, depois explora cada canto, até compreender onde as coisas ficam e como tudo funciona. Terminou a graduação pela Gran Faculdade e já mira concursos de nível superior.

As lembranças, de quando em quando, ainda voltam: o fogo que consumiu a casa, a enxada na roça, os turnos intermináveis no posto de gasolina, a tela da lan house piscando páginas em JPEG… A diferença é que agora essas memórias ocupam outro lugar. O que antes era peso virou propulsão. O que poderia ser visto como âncora é compreendido como motor. O Lucas servidor da Justiça Eleitoral nasceu justamente do incêndio que lhe tomou quase tudo. Desse trauma levantou o jovem que faria o impossível mudar a seu favor.

Se você lê esta história sentindo que também carrega dentro de si um incêndio como o que marcou Lucas, saiba que há um caminho. Quando não houver ferramenta, invente uma. Quando errar por detalhe, mude o procedimento, não o destino. Quando faltar dinheiro, aceite o apoio de quem acredita em você e honre essa confiança. E, quando lhe sobrarem só trinta minutinhos num dia atribulado, estude mesmo assim – essa meia hora de hoje se somará à de amanhã, e à de depois de amanhã, e é assim que se constrói um futuro.

Não se trata de frase de efeito, mas de pragmatismo. Trata-se de ouvir a mãe teimosa que plantou a ideia certa. De aplicar boas técnicas, com edital todo sublinhado. De ser criativo, com JPEG em CD e transcrição do conteúdo à mão. De usar bem o tempo, com almoço rápido seguido de vídeo acelerado. De aceitar o gesto de um amigo que viabiliza o impossível. Por fim, de provar para o mundo que o que separa o lampião do brasão é apenas uma frase devidamente copiada e anos de constância. O resto é consequência. 

Sonho realizado. Próximos alvos à vista.


Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.

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Fonte: Gran Cursos Online

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