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A lamparina fumegava na pequena casa de madeira, último posto de claridade antes do breu da floresta amazônica. Foi ali, num canto esquecido da zona rural de Concórdia do Pará, que Jaqueline Collins começou a enfrentar o impossível: estudar sem energia elétrica, dividir sala de aula com alunos de outras séries, percorrer diariamente dez quilômetros de estrada de barro para chegar à escola a tempo da chamada.
Quando chovia, o trajeto beirava o absurdo: o caminhão escolar descia ladeiras escorregadias em zigue-zague, às vezes de ré, com o abismo de um lado e a mata fechada do outro. Lá dentro, as crianças se agarravam com força às laterais da caçamba para não serem arremessadas. Jaqueline, franzina e calada, escondia o medo com os olhos fixos no horizonte. Mesmo sem entender ainda o tamanho do risco, ela já intuía que precisava resistir.
Tudo isso fazia parte do alfabeto da superação que a menina teve de dominar cedo. Quem a visse equilibrando cadernos no colo dificilmente imaginaria que, décadas mais tarde, ela ocuparia o primeiro lugar em cinco concursos públicos, inclusive o concorridíssimo 8º Concurso do Tribunal de Justiça do Amapá.
A primeira lição veio de casa. A mãe, professora municipal, repetia com convicção que o caminho para fora da pobreza passava necessariamente pelos livros. Não havia plano B. Ainda assim, dignidade cabia em gestos simples – a mesa posta, o uniforme limpo, o caderno bem cuidado, tudo conquista do salário de educadora. Jaqueline tomou nota: escola era bem mais que prédio; era passaporte.
Aos 14, fez a primeira mala com destino a Belém. Sonhava com um curso técnico porque, para quem vinha de lampião, uma boa formação significava acender outras lâmpadas. Morou com tios e primos, mudou de endereço quantas vezes foi preciso e, aos 19, voltou para o interior formada e já com o segundo lugar em um concurso de nível médio. Parecia uma vitória definitiva, até Jaqueline descobrir que o salário de técnica de enfermagem não pagaria nem a mensalidade da escola das filhas que pretendia ter.
Foi então que começou o segundo salto: faculdade de noite, pós-graduação e um pacto diário com o edital. Seis horas de plantão no hospital, celular em punho nos momentos de espera, videoaulas do Gran rodando enquanto os colegas trocavam mensagens inúteis no WhatsApp. Em casa, a rotina não dava trégua, entre louças na pia, lições das meninas, esteira para cuidar do corpo – afinal, “a gente não pode se abandonar”. Só lhe sobravam as madrugadas para resolver questões de concurso.
Vieram as reprovações que desiludiam, o ranking que custava a virar convocação, as listas que insistiam em trazer seu nome no vigésimo lugar… Entrava a madrugada, saía a fé? Não mesmo! Desistir jamais foi uma opção em seu gabarito. Com uma amiga, o compromisso renovado: “Se forem duas vagas, fico em primeiro; a segunda é sua.” E tome reabrir o caderno a cada nova tentativa.
Eis que, em 2023, o Tribunal de Justiça do Amapá publicou a lista derradeira. Uma cautelosa Jaqueline começou a leitura de baixo para cima. Quando seu nome não apareceu entre os dez primeiros, ela checou o cabeçalho para confirmar o cargo – assistente social. E então, no topo da relação, lá estava: primeiro lugar. O grito ecoou dentro do hospital, seguido de três dias de tremores, maracujina para dormir e uma alegria que não cabia no peito.
Hoje Jaqueline está lotada na Vara de Execuções Penais de Macapá. Com a renda triplicada, trocou a quitinete por um apartamento onde a filha de 9 anos corre de ponta a ponta como quem mede a nova liberdade. Cinco minutos separam casa, escola e tribunal, o que lhe permite ser a mãe presente que sempre idealizou. Agora pensa em mestrado, talvez doutorado. É que concurso, para ela, nunca foi um fim em si mesmo, mas uma ponte rumo a novos horizontes.
Quando alguém lhe pergunta o que dizer aos que andam cansados da estrada de chão e dos cadernos amassados, Jaqueline responde com o princípio que a sustentou na penumbra dos lampiões: fé é certeza antes da prova final. A caminhada é longa, admite; mas, na chegada, cada madrugada insone ganha recibo.
Por isso, se o cansaço bater à porta, lembre-se da menina que se agarrava às laterais da caçamba do caminhão com medo de ser arremessada. Aquela mesma garota que, anos mais tarde, pegou carona na própria coragem para conduzir a vida das filhas por um caminho pavimentado de escolhas.
A lamparina, é certo, ficou para trás. Já a luz, essa chegou primeiro. Acendeu-se dentro dela muito antes de a rede elétrica alcançar a porteira – e continua acesa até hoje.
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Gabriel Granjeiro – CEO e sócio-fundador do Gran. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha de perto o universo dos concursos desde muito cedo. Ingressou nele, profissionalmente, aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanalmente para o blog do Gran. Formou-se em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Em 2021, foi incluído na prestigiada lista da Forbes Under 30. Autor de 4 livros que figuraram entre os best-seller da Amazon Kindle.
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Fonte: Gran Cursos Online