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UTILIZAÇÃO X VAZÃO
Quando ocorrem engarrafamentos nas rodovias, as estradas (recursos ou capacidade) do nosso sistema estão sendo utilizadas em sua totalidade (utilização), mas o tráfego se move lentamente: Poucos veículos (itens de trabalho) transitam por unidade de tempo através do sistema (vazão), e todos os veículos gastam um tempo excessivo (lead time) nesse trecho da rodovia. Como resultado, o sistema sofre atrasos (atrasos se acumulam), e os compromissos assumidos podem ser comprometidos (as promessas de entrega podem ser descumpridas). Ao dirigir, você realmente observa a alta utilização da estrada? Infelizmente, essa forma de otimização ainda representa um paradigma de gestão bastante comum. No entanto, o Kanban propõe uma abordagem diferente de otimização. O objetivo é permitir que o maior número possível de veículos (itens de trabalho) passe através do nosso sistema de maneira fluida, rápida e previsível. Aqui, operar significativamente abaixo da capacidade total (folga) é desejável, criando espaço para flexibilidade e eficiência.
Tipos de Trabalho
Nas rodovias, observamos a circulação de distintos tipos de veículos: motocicletas, automóveis, vans, caminhões e ônibus. Cada um possui características específicas quanto ao tamanho, à velocidade, à função e à capacidade de carga ou transporte de passageiros. No contexto do Método Kanban, esses veículos representam os diferentes tipos de trabalho (ou categorias de itens de trabalho). Assim como os veículos, os itens de trabalho apresentam naturezas distintas, exigindo abordagens adequadas conforme suas particularidades.
Classes de Serviço
Alguns veículos, como viaturas policiais, ambulâncias e caminhões de bombeiros, têm prioridade de passagem nas vias. Esse cenário ilustra o tratamento diferenciado atribuído a determinados itens, o que no Kanban é conceituado como Classes de Serviço.
A situação descrita corresponde à chamada classe de serviço “urgente” (expedite). Para essa categoria, estabelecem-se regras claras e critérios consensuais, previamente conhecidos por todos os “condutores do sistema” — ou seja, os envolvidos no fluxo de trabalho. Os veículos autorizados a essa classe geralmente são identificáveis por características visuais específicas (como sirenes e pintura diferenciada) e podem transitar mesmo quando o sistema atinge seu limite máximo de trabalho em progresso (WIP), ou seja, mesmo diante de congestionamento. Nesses casos, os demais veículos devem abrir espaço — por exemplo, formando um corredor de emergência — para permitir a fluidez desses itens prioritários.
Esse tratamento diferenciado possibilita que os itens classificados como urgentes avancem com maior celeridade, mesmo que isso implique em um tempo maior de espera para os demais. Outro exemplo de aplicação de Classes de Serviço são as faixas exclusivas de tráfego, destinadas a ônibus, táxis, veículos elétricos ou automóveis com múltiplos ocupantes (como as “HOV lanes”, comuns nos Estados Unidos).
Adaptação à Variabilidade de Demanda
A dinâmica do tráfego varia de acordo com o local e o horário. O volume total de veículos (itens de trabalho) e a proporção entre os diferentes tipos (categorias de trabalho) sofrem alterações conforme o contexto. Em áreas urbanas densas, é comum observar um elevado número de veículos de uso particular, especialmente em horários de pico. Já em rotas de transporte entre regiões metropolitanas, há menor variação no fluxo, dominado majoritariamente por caminhões.
Nosso sistema, assim como uma malha viária eficiente, deve ser planejado para suportar essa variabilidade. Para tanto, é necessário controlar os pontos de entrada dos itens de trabalho, ajustar a capacidade disponível (como o número e largura das faixas), e regulamentar os limites de velocidade. Essa abordagem permite manter o fluxo funcional, mesmo diante de oscilações na demanda.
Visualização: Controle e Tomada de Decisão
Imagine-se atuando em um centro de monitoramento de tráfego rodoviário. Dada a complexidade do sistema e a imprevisibilidade inerente ao comportamento dos veículos e a eventos fortuitos, cada jornada apresenta desafios únicos. Para lidar com essa variabilidade, utiliza-se uma plataforma de visualização — representada por um quadro Kanban, análogo a uma placa de controle de tráfego.
Esse quadro permite que operadores visualizem, de maneira imediata e clara, a situação do sistema: quais trechos da via estão ocupados (itens em progresso), onde há obras (impedimentos estruturais), e onde ocorreram acidentes ou panes (gargalos). Com essas informações visíveis, as decisões podem ser tomadas de forma mais ágil, coordenada e colaborativa, contribuindo para a fluidez geral do fluxo.
No Kanban, visualizar o fluxo de trabalho é um dos princípios fundamentais. Ao tornar visível o que antes estava oculto, é possível identificar gargalos, sobrecarga, interrupções e áreas críticas que exigem atenção gerencial.
Veja na imagem a seguir, retirada do site oficial do Kanban, os principais benefícios.

Nos grandes centros urbanos, é comum a presença de semáforos posicionados nas entradas das vias expressas. Esse mecanismo, conhecido como controle de acesso (ou ramp metering), regula a taxa de entrada dos veículos com base na velocidade e no volume já existente nas vias. O objetivo é claro: evitar o colapso do sistema pela sobrecarga de tráfego.
No Método Kanban, esse conceito é traduzido como Limitação do WIP (Work in Progress). Ou seja, define-se um limite para a quantidade de trabalho que pode estar em execução simultaneamente no sistema. Esse limite não é arbitrário — ele é ajustado conforme a capacidade de entrega e os gargalos existentes, permitindo que o fluxo se mantenha estável, previsível e eficiente.
Ao limitar o WIP, evitamos o acúmulo desnecessário de tarefas, melhoramos o tempo de resposta (lead time) e reduzimos o estresse sobre os recursos humanos e técnicos, exatamente como acontece ao restringir o número de veículos acessando uma via já congestionada.
PULO DO GATO
WIP (Work in Progress) no Kanban representa a quantidade de tarefas em andamento. Limitar o WIP evita sobrecarga, melhora o fluxo de trabalho e reduz o tempo de entrega. O objetivo é focar na finalização antes de iniciar novas tarefas, promovendo eficiência e qualidade.
Puxar o Trabalho e Estabelecer Políticas Explícitas
Ao dirigir por uma rodovia, é possível observar visualmente se há espaço disponível à frente. Esse espaço sinaliza se é seguro continuar avançando ou se é necessário reduzir a velocidade ou até parar. No Método Kanban, essa sinalização é análoga aos sinais de capacidade disponíveis, os quais indicam a possibilidade de puxar um item de trabalho para o próximo estágio do processo.
Para que esse mecanismo de “puxar trabalho” funcione adequadamente, é essencial que o sistema possua limites de WIP (Work in Progress) claramente definidos, representando sua capacidade máxima. Imagine que a rodovia seja segmentada em setores (por exemplo, trechos de 500 metros). Se houver espaço suficiente no setor seguinte — respeitando a distância de segurança e o limite máximo de veículos —, um sinal autorizará a entrada do próximo carro (item de trabalho) nesse setor. Caso contrário, o veículo aguardará até que haja capacidade disponível.
Esse modelo, ainda que metafórico, ilustra bem o funcionamento de um sistema puxado: a movimentação de itens não é forçada, mas ocorre conforme a liberação de espaço no fluxo. Em cenários reais, esse controle também pode ocorrer mais acima na rodovia, evitando que novos veículos ingressem no sistema já sobrecarregado.
Gerenciando o Fluxo de Trabalho
No Kanban, fluxo é o conceito que descreve o movimento contínuo dos itens de trabalho ao longo do sistema. Tal como em uma rodovia, a fluidez desse movimento requer acompanhamento constante, ajustes e intervenções estratégicas. Nos pontos de maior movimentação, é necessário realizar o controle ativo do tráfego, o que envolve visualização, coleta de dados e análise constante.
Sensores dispostos ao longo das vias monitoram o volume de tráfego, a velocidade média dos veículos e até as condições climáticas. Com base nessas informações, sistemas inteligentes podem ajustar dinamicamente os limites de velocidade ou redirecionar rotas, promovendo um fluxo mais uniforme e eficiente.
No Kanban, essa mesma lógica se aplica. Medindo continuamente o fluxo, torna-se possível identificar padrões, prever comportamentos e implementar melhorias orientadas por dados históricos, com foco em otimizar a eficiência sistêmica.
DIRETO DA PROVA
(CESPE / DATAPREV – 2023) Uma das técnicas adotadas pelo Kanban para assegurar a agilidade nas entregas é limitar o trabalho em progresso.
COMENTÁRIO
Uma prática central do Kanban é a limitação do trabalho em andamento (Work In Progress – WIP). Essa estratégia busca aumentar a produtividade e a agilidade nas entregas, prevenindo a sobrecarga da equipe e favorecendo a finalização mais ágil das tarefas. Ao restringir o número de atividades simultâneas, o Kanban facilita a identificação de gargalos no processo, contribuindo para o uso mais eficiente dos recursos e maior foco no que realmente importa.
Gabarito está correto.
QUESTÃO INÉDITA
(Certo ou Errado)
No método Kanban, o Lead Time representa o tempo entre o início do desenvolvimento de um item de trabalho e sua finalização.
Gabarito: Certo
Lead Time mede o tempo entre o ponto de comprometimento e a entrega.
No contexto do método Kanban, o trabalho em progresso (WIP) influencia diretamente:
A) apenas a velocidade do time
B) apenas a qualidade do produto
C) o Lead Time e o Throughput
D) apenas o número de tarefas pendentes
E) o número de bugs em produção
Gabarito: C
WIP alto tende a aumentar o Lead Time e impactar negativamente o Throughput.
Ano: 2024 Banca: FGVÓrgão: TRF – 1ª REGIÃO
Prova: FGV – 2024 – TRF – 1ª REGIÃO – Analista Judiciário – Área Apoio Especializado – Especialidade: Governança e Gestão de Tecnologia da Informação
O Departamento de Capacitação (DECAP) é responsável pela gestão do aprimoramento profissional dos colaboradores de uma determinada organização.
O DECAP, que planeja, coordena e executa treinamentos, está aplicando Kanban como método de gerenciamento de seu processo de trabalho.
O DECAP estabeleceu um Work in Progress Limit (WIP Limit) na gestão de seu processo de negócio visando a:
COMENTÁRIO:
A) associá-lo a práticas ágeis de entrega contínua
Incorreta. O WIP pode apoiar entregas contínuas, mas sua função principal é gerenciar capacidade e evitar sobrecarga.
B) planejar e iniciar mais treinamentos em menos tempo
Incorreta. O WIP limita, e não acelera, o início de novos itens. A ideia é terminar mais, não começar mais.
C) criar um equilíbrio entre demanda e capacidade ao longo do tempo
Correta. Essa é a essência do WIP Limit: equilibrar o que entra com o que pode ser concluído, promovendo fluxo estável e previsível.
D) identificar os treinamentos que ultrapassam o limite estabelecido
Incorreta. A identificação de excesso pode ocorrer, mas o foco do WIP é prevenir esse tipo de situação, não apenas identificá-la.
E) definir o período máximo de tempo que uma etapa do processo deve durar
Incorreta. Essa descrição se relaciona mais a SLAs ou políticas de tempo, não ao conceito de WIP Limit.
Gabarito é a letra C
Fonte: Gran Cursos Online