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Olá, pessoal! Tudo bem? Sou a professora Débora Juliani, farmacêutica, especialista em Análises Clínicas. Faço parte da equipe do Gran Concursos e este é o terceiro artigo da série “Curiosidades em Análises Clínicas”, em que pretendo abordar temas curiosos ou pouco conhecidos no mundo dos exames laboratoriais!
No primeiro deles, intitulado “Descubra a relação entre vampiros, Bioquímica e Genética” (https://blog.grancursosonline.com.br/curiosidades-em-analises-clinicas-descubra-a-relacao-entre-os-vampiros-a-genetica-e-a-bioquimica/), eu trouxe um assunto muito interessante sobre a porfiria, uma doença genética que explica o mito do vampirismo. Não deixe de conferir; você vai gostar!
No segundo, intitulado “PSA em mulheres e beta hCG em homens, sim!” (https://blog.grancursosonline.com.br/curiosidades-em-analises-clinicaspsa-em-mulheres-e-beta-hcg-em-homens-sim/), falamos sobre essas novidades diagnósticas. Vale super à pena a leitura, para você não continuar no time dos que acham que é sempre um erro do médico prescritor a solicitação de PSA em mulheres e beta hCG em homens.
De volta ao presente artigo, tive como inspiração a dúvida de uma aluna que me trouxe a seguinte questão de prova, indagando sobre o gabarito preliminar da banca:
Lendo as alternativas, me dei conta do quão pouco conhecido é o fato de os antígenos do sistema ABO serem expressos também em outros materiais biológicos diferentes do sangue. Então decidi trazer algumas informações sobre o tema, já que como comprovado aqui, isso “cai em prova”!
Assim, guarde isso em seu coração (e também no cérebro, claro, para a hora da prova!): os antígenos do sistema ABO não são restritos à membrana eritrocitária, mas também estão presentes na saliva e outros líquidos biológicos, exceto liquor. Olha que questão de prova boa para “pegar” candidato despreparado, não é mesmo?
Mas tem um detalhe: essa presença de antígenos ABO nos líquidos biológicos ocorre apenas em indivíduos que apresentam o gene secretor (Se), que correspondem aproximadamente à 80% da população. Ou seja, ocorre na maioria, mas não em todas as pessoas.
Os antígenos ABO são encontrados ainda na maioria das células epiteliais e endoteliais, e até mesmo nos linfócitos e plaquetas (possivelmente devido à absorção do plasma). Inclusive a presença dos antígenos ABO nas diversas células e tecidos é importante em transplantes de órgãos, onde a compatibilidade ABO entre doador e receptor é fundamental para reduzir o risco de rejeição.
Vale relembrar ainda que foram descritos quatro antígenos no sistema ABO: A, B, H e A1, expressos desde a 5ª semana de vida intrauterina. O recém-nascido tem ainda uma expressão fraca destes antígenos (cerca de 1/3 dos sítios antigênicos totais em relação ao adulto), mas a expressão aumenta com a idade e é máxima em torno dos dois a quatro anos de vida.
O antígeno H é o precursor dos antígenos A e B, e é o único expresso no grupo O. Adicionando a ele um açúcar específico, a N-acetilgalactosamina, temos o antígeno A, expresso nos grupos A e AB. Já adicionando ao antígeno H outro açúcar, a galactose, temos o antígeno B, expresso nos grupos B e AB. O fenótipo Bombaim, é um tipo sanguíneo raro, onde nem mesmo o antígeno H é expresso.
Mas e o antígeno A1? Ele é um subtipo do antígeno A e está presente na maioria das pessoas do grupo A (aproximadamente 80%). Em testes de tipagem sanguínea, é possível identificar A1 utilizando um reagente especial chamado anti-A1 lectina, que se liga especificamente às hemácias A1, mas não às demais hemácias A.
Dito isso, vamos voltar à questão apresentada? Ela fala sobre um resultado de tipagem sanguínea ABO discrepante. O paciente apresentou aglutinação nas hemácias com os anticorpos anti-A e anti-B (ou seja, ele possivelmente expressa os antígenos A e B em suas hemácias, logo classificado como grupo AB). Na prova reversa (realizada no soro do paciente, como diz no enunciado) de um paciente do grupo sanguíneo AB, o esperado é nenhuma aglutinação no soro do paciente, independentemente do tipo de hemácias testadas (A ou B). Assim, embora a questão diga que isso indica uma possível discrepância na tipagem, não concordo que há discrepância.
Mas, porém, contudo, entretanto, todavia… se houvesse uma discrepância, a alternativa A seria a mais apropriada. A realização de uma nova tipagem com antissoros monoclonais e diferentes lotes de reagentes ajuda a verificar se a discrepância foi causada por reagentes ou erros no processo inicial.
O teste de antígenos do sistema ABO na saliva é utilizado em casos onde o paciente apresenta o gene secretor, mas é uma técnica auxiliar e não a principal para resolver discrepâncias de ABO, até porque a questão nem informa se o paciente está ou não no grupo dos cerca de 80% que expressam o gene Se. Se ele não for secretor, de nada adianta o teste na saliva!
Perceba nesse guia para resolução de discrepâncias ABO que o passo número 1 é eliminar variáveis pré-analíticas, o passo 2 seria o descrito na alternativa A (repetir testes, reagentes novos, etc.). Somente o passo 4 envolve o estudo da saliva (com uma ressalva: SE SECRETOR!)
Em resumo, espero que você tenha aprendido ou relembrado que o teste de saliva é útil para determinar o grupo ABO em pacientes onde a tipagem tradicional pode ser difícil, como em neonatos, pacientes politransfundidos, em locais remotos ou em situações de reações discrepantes na tipagem direta e reversa. Porém existe essa grande limitação: apenas pessoas que são secretoras podem ser tipadas usando esse teste. Para os não secretores, esse teste não é eficaz, já que eles não têm antígenos ABO na saliva.
Ficamos por aqui! Espero que tenha gostado do conteúdo! Um forte abraço e bons estudos, com a equipe do Gran Concursos, claro!
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Fonte: Gran Cursos Online