Apostilas em PDF – os nove meses de Flávio

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Na casa dos Ambrósios, livro sempre teve lugar — mesmo quando o orçamento mal dava para o básico. O pai, professor de língua portuguesa, lia em voz alta para os quatro filhos como quem acende lamparinas numa noite longa. A mãe, dona de casa, afinava o mundo no compasso do necessário: nada em excesso, tudo com sentido. Foi ali que Flávio aprendeu duas virtudes que, mais tarde, seriam a base da sua salvação: disciplina e paciência.

A primeira escolha adulta veio no fio da navalha de quem não pode se dar ao luxo de errar: fisioterapia. O curso era bom; a rotina, idem; o contracheque, nem tanto. Evoluir na carreira exigia especializações custosas, aparelhos de ponta, horas que não cabiam no relógio, um investimento pesado demais para quem já entregava muito e recebia pouco. Entre um atendimento e outro, Flávio começou a perceber que pagava as contas, mas não construía um futuro. Precisava de um novo caminho.

Entrou no mundo dos concursos como quem tateia um quarto escuro. Reprovou nas primeiras tentativas por pura falta de foco e método. Depois, encontrou o rumo. Trocou o material de estudo, descobriu técnicas e a coisa começou a andar. Em 2009, veio a aprovação para técnico administrativo; em 2012, para analista da Receita. Nesse último, ficou como excedente. Acabou nomeado só em 2014 e se mudou para Brasília. Gostava do trabalho, e o salário… Bem, para um solteiro, bastava. Flávio estava confortável o suficiente para pendurar as chuteiras de concurseiro.

Até o dia em que nasceu um menino chamado Gabriel.

Aos quatro meses de vida do filho, o cálculo mudou. “Dá pra criar em Brasília, mas dá pra dar o melhor?”, Flávio se perguntava. Não bastava mais “dar conta”; era preciso alargar os horizontes. A autorização para o concurso de Auditor-Fiscal veio como um chamado. Aos 43 anos, com olheiras de pai recente e culpas improvisadas, Flávio tirou o pó dos livros, dos PDFs e das planilhas e anunciou: “Vai ser por você, filho.”

Muitas vezes, Flávio assista a videoaulas do Gran com o pequeno Gabriel no colo.

O plano era simples e brutal: nove meses de foco absoluto. Sem redes sociais, sem tevê, sem conversa fiada de corredor. Home office para economizar os minutos do deslocamento. Acordava às seis e estudava até ouvir o chorinho do bebê. Ia lá trocar a fralda, preparava o café e saía com o carrinho e os fones. A cidade amanhecia à sua volta enquanto a aula do Gran tocava no ouvido; o filho no colo, e a cabeça anotando: “Isso caiu quando eu contornava a pracinha; aquilo, na sombra da sibipiruna.” Às vezes, a memória guarda a lei seca no mesmo lugar onde guarda o cheiro de talco.

O almoço virava hora de revisão. Depois do expediente, uma meditação breve para arejar a mente — hábito antigo, resgatado na nova fase — e mais estudo até as dez da noite, o limite sagrado do corpo. 

“Se eu perder o sono, perco o dia seguinte”, pensava, certeiro. 

De madrugada, quando Gabriel chorava, a esposa assumia: “Dorme. Amanhã você carrega o estudo.” Paternidade não era desculpa; era motor. Havia brigas, claro. Havia culpa, claro. E houve dias em que Flávio quase desistiu. Mas então uma frase íntima ressoava: “Agora é a hora. Depois, ele vai pedir jogo, bola, história. Hoje, ele dorme no meu peito e eu decoro o CTN.”

No primeiro aniversário do filho, Flávio estava a mil. A família comemorou com um bolinho simples em casa e o pai logo retornou à mesa de estudos. Sacrifício agora para oferecer o melhor à família mais tarde.

A prova veio com a cara amassada da FGV: questões fora do edital que a banca manteve, outras praticamente entregues em cursos preparatórios pelo próprio autor, e a discursiva — esse terreno pantanoso — trouxe surpresa: justo na área em que Flávio trabalhava, levou um zero que doeu como porta batida na cara. Nas outras, a pontuação ficou aquém do esperado. Flávio saiu do TOP-50 da objetiva para fora do corte da discursiva numa única canetada. Aquele foi um dos dias mais tristes de sua vida.

O que dói no concurseiro não é só a nota. É o tempo de colo que faltou, a fralda que a esposa trocou sozinha, o passeio não feito. Cada renúncia pesa quando a injustiça tem nome e sobrenome.

Veio o recurso e, com ele, alguns pontos de volta. Não todos; apenas o suficiente para recolocar Flávio nas vagas. E eis que aquela montanha-russa estacionou no topo: Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. No peito, não era só euforia; era alívio, era gratidão, era sentimento de dever cumprido. Era a foto do filho no celular, a bochecha rosada, o sorriso de um ano e cinco meses… Era o pai professor, lá atrás, recitando “Os Lusíadas” para meninos de pijama, sem saber que treinava um Auditor em potencial.

Assinando o termo de posse.

Há crônicas que terminam com a moral da história. Esta, que começou com uma promessa sussurrada no escuro, termina com um mapa. A jornada de Flávio tem algo a ensinar. Não importa se você está apenas recomeçando ou se descobriu o concurso público como tábua de salvação aos 40 e tantos, com boletos para pagar e um bebê no colo.

Se é para seguir, que seja com direção:

  • O foco tem de ser absoluto. Nada de “tenho tarefas e tiro um tempo para estudar”; é “eu estudo, e o resto se ajeita nos intervalos.”
  • Transforme a rotina em aliada. Caminhar com o filho no colo enquanto ouve aula não é improviso; é tática.
  • Durma bem. Quem sacrifica o sono joga contra o próprio cérebro.
  • Medite, respire, desconecte. O cérebro rende mais quando encontra lugar de descanso.
  • Estanque vazamentos. Rede social rouba em gotas o que o edital exige em litros.
  • Estude com bons materiais. A caminhada já é longa demais para ser feita com botas furadas.
  • Recurso não é reclamação; é ferramenta. E ferramenta se aprende a usar.
  • E, principalmente, escolha por quem você vai à luta. Quando o porquê é sólido, o como fica mais fácil.

No fim, Flávio não virou influenciador digital. Tornou-se algo mais raro: exemplo silencioso do que acontece quando a educação encontra disciplina e propósito. O menino no carrinho cresce aprendendo que amor também se conjuga em silêncio: um pai que fecha o notebook às dez, que leva para passear com fones de ouvidos, que apanha da banca e volta para mais um round. E que, certo dia, abre o Diário Oficial e encontra o próprio nome sob um brasão.

Um dia, você também vai assinar um termo como esse. Amém?

Entre o berço e o boleto, havia um edital. Entre o edital e a posse, havia um filho chamando “papai”. E, entre uma coisa e outra, havia um homem que decidiu que o futuro podia começar agora.


Gabriel Granjeiro –O e sócio-fundador do Gran, maior Edtech do Brasil em número de alunos, com mais de 800 mil discentes ativos pagantes. Reitor e professor da Gran Faculdade. Acompanha o universo dos concursos desde a adolescência e ingressou profissionalmente nele aos 14 anos. Desde 2016, escreve artigos semanais para o blog do Gran, que já somam milhões de leitores.

Formou-se entre os melhores alunos em Administração e Marketing pela New York University Stern School of Business. Foi incluído na lista Forbes Under 30 (2021), eleito Empreendedor do Ano pela Ernst & Young (2024) e reconhecido pela MIT Technology Review como Innovator Under 35 no Brasil e na América Latina. Autor de quatro livros best-seller na Amazon Kindle.

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Fonte: Gran Cursos Online

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